Monitoramento da Mastofauna é realizado em Guaratuba 22/05/2024 - 11:53

Após a emissão da Licença de Instalação (LI), pelo IAT - Instituto Água e Terra, o monitoramento de fauna está em sua primeira etapa, sendo uma das condicionantes presentes nos programas ambientais para a construção da Ponte de Guaratuba. Cumprindo os requisitos, a mastofauna, que é a composição de mamíferos de uma determinada região, também está em monitoramento. Na região que abrange o empreendimento, as equipes especializadas, formadas por biólogos, oceanógrafos e engenheiros ambientais, estudam as espécies de mastofauna, que são dividas em mamíferos terrestres, aquáticos e alados.

Por serem animais muito dependentes do ambiente onde estão inseridos, especialmente as florestas, os mamíferos são sensíveis às alterações ambientais. Por isso, regiões com uma alta diversidade de mamíferos, demonstram uma boa qualidade ambiental. Importantes no equilíbrio dos ecossistemas, os animais são fundamentais na ciclagem de nutrientes, na regeneração florestal, na dispersão de sementes e polinização, bem como no controle populacional de outras espécies. A bióloga do Consórcio Supervisor da Ponte de Guaratuba - CSPG, Aline Prado, explica que monitorar a mastofauna vai indicar a qualidade ambiental da região antes, durante e depois da obra. "As informações do diagnóstico ocorrentes na área de influência permitem identificar possíveis impactos, como também elaborar e executar estratégias para redução dessas alterações", completa a bióloga.  

O cronograma da campanha de monitoramento, com a emissão da LI, será executado trimestralmente, levando em consideração os meses das quatro estações sazonais. "Com a ponte em execução, o monitoramento será realizado de três em três meses. Os estudos ocorrem em pontos delimitados como floresta de terra firme, ambientes de praias, ilhas fluviais e ambientes aquáticos", diz Aline.  

No monitoramento da obra da Ponte de Guaratuba, a mastofauna terrestre, é dividida em três grupos: mamíferos de pequeno e médio porte não voadores (cuícas, roedores, gambás), mamíferos voadores (morcegos) e mamíferos de médio e grande porte (cachorro-do-mato, quati, pumas). 

 

Metodologia aplicada para monitoramento da Mastofauna Terrestre e Aquática

 

Para mamíferos de Pequeno e Médio Porte não voadores:

 

Contenção Viva (do Tipo Live-Trap): Nos estudos dos pequenos e médios mamíferos não voadores, são usadas as Armadilhas Tomahawk (gaiolas) e Armadilhas Sherman (caixas de alumínio) colocadas em pontos estratégicos no solo e nas árvores. Dentro das armadilhas, são colocadas iscas compostas de mistura de frutas, carnes e castanhas para atrair os animais. Assim que o indivíduo adentra a armadilha, um dispositivo é acionado, fechando-a e capturando o animal de forma segura.

 

Interceptação e Queda (Pitfalls): também utilizadas para mamíferos de pequeno e médio porte não voadores, as armadilhas de interceptação e queda são montadas com baldes enterrados ao nível do solo, para que durante a locomoção dos pequenos mamíferos, estes sejam capturados para estudos. As estações de Pitfalls são revestidas com galhos, folhas e pedaços de isopor para garantir que os animais sejam capturados com segurança. Depois, as armadilhas são inspecionadas por pesquisadores que removem os animais, identificam as espécies, tiram fotografias e os liberam novamente no mesmo local onde foram capturados. 

 

Pequenos mamíferos mais capturados: cuíca-quatro-olhos (Philander quica), gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita), gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), rato-do-chão (Thaptomys nigrita), esquilo caxinguelê (Guerlinguetus brasiliensis).

 

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Para mamíferos voadores:

 

Redes de Neblina (Mist Nets): São redes instaladas em pontos estratégicos como trilhas naturais ao longo da mata, ou nos chamados corredores de voo. Armadas durante o anoitecer ficam imperceptíveis aos animais que não percebem as redes e dessa forma são interceptados.  Após a captura, os animais são cuidadosamente retirados das redes, identificados, fotografados e liberados. 

 

Morcegos mais capturados: Morcego (Myotis nigricans), Morcego-beija-flor (Glossophaga soricina), Morcego-fruteiro (Artibeus fimbriatus)

 

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Para mamíferos de médio e grande porte:

 

Censo por Transecção (Busca Ativa): Uma das metodologias mais utilizadas para inventários de mamíferos nas regiões de mata atlântica, onde os pesquisadores percorrem caminhos aleatórios dentro de pontos estratégicos e, ao amanhecer e entardecer, buscam pelos animais e seus vestígios, como pegadas, fezes, pêlos, tocas e cheiro.

 

Armadilhas fotográficas (Camera Trap): Nessa armadilha, câmeras com sensores de movimento e temperatura são colocadas em pontos específicos junto com iscas compostas de frutas e carnes. Quando os animais passam diante do visor, a câmera detecta e automaticamente fotografa. Desse modo, no outro dia os pesquisadores retiram as câmeras, avaliam as fotos e identificam as espécies registradas. 

 

Métodos complementares também são utilizados para os mamíferos terrestres, como busca por abrigos, monitoramento com carros e entrevistas com moradores locais. Esses métodos auxiliam aumentando o número de registros, melhorando o monitoramento. 

 

Mamíferos de médio e grande porte registrados: cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), quati (Nasua nasua), lontra neotropical (Lontra longicaudis).

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Mamíferos aquáticos

 

No monitoramento de mamíferos aquáticos, são realizadas quatro metodologias, focadas em acompanhar cetáceos (baleias, botos, golfinhos,) e pinípedes, como lobos-marinhos, leões-marinhos.

 

Ponto fixo: com esse método, o pesquisador escolhe pontos estratégicos e faz o registro direto (visual e fotográfico) de animais aquáticos e seus comportamentos. Após, as espécies são identificadas e seus comportamentos avaliados. 

 

Censo embarcado: dois observadores ficam na proa da embarcação com câmeras fotográficas e binóculos e monitoram um ângulo de 180º, realizando o registro dos animais em pontos específicos próximos ao empreendimento. Ao observarem os animais, os pesquisadores registram algumas informações importantes como, qual a espécie, o número de indivíduos, comportamento, se estão próximos da embarcação e localização em coordenadas geográficas. 

 

Mapeamento de tocas e ninhos: algumas espécies que ocorrem na região têm prioridade no monitoramento por estarem ameaçadas de extinção e listadas em Planos Nacionais de Conservação, como a lontra (Lontra longicaudis) e a toninha (Pontoporia blainvillei). Dessa forma, durante o monitoramento por ponto fixo e censo embarcado, além de verificar a presença do animal, o foco também é buscar vestígios reprodutivos, como tocas e ninhos. Ao encontrar algum indício reprodutivo ou observar o próprio animal, o pesquisador registra as informações como espécie, qual evento reprodutivo, localização entre outras para avaliação posterior. 

 

Monitoramento acústico de cetáceos: o monitoramento acústico captura sons ao redor através da utilização de hidrofones (microfone subaquático) para registrar os sons embaixo da água. Podendo distinguir os sinais acústicos dos cetáceos, e dos sinais de origem antrópica.

 

Busca por carcaças: de forma complementar, é realizado o monitoramento de praias e áreas de transição entre o mar e o mangue, na busca de carcaças ou vestígios, como ossos, pele, dentes, fezes entre outros. Ao encontrar algum animal ou vestígios, os pesquisadores registram em fotografia. 

 

Por enquanto só foi registrado boto-cinza (Sotalia guianensis) por censo embarcado aliado a monitoramento acústico.