Meio Ambiente: Monitoramento da Herpetofauna é realizado em Guaratuba 08/08/2024 - 10:03
Dentre os Programas Básicos Ambientais (PBAs), a herpetofauna está em monitoramento pelas equipes do Consórcio Nova Ponte, empresa executora da Ponte de Guaratuba, com supervisão do DER/PR e suas contratadas. O acompanhamento das espécies de répteis (lagartos, tartarugas e serpentes) e anfíbios (sapos, pererecas e rãs) é feito trimestralmente pelas equipes ambientais nos pontos determinados para monitoramento. De acordo com Aline Prado, bióloga do Consórcio Supervisor da Ponte de Guaratuba, braço do DER/PR, esses animais desempenham papel crucial na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e terrestres. "Eles auxiliam no controle populacional de presas, como insetos, o que indiretamente contribui para o manejo de vetores de doenças de importância médico-sanitária e pragas relevantes na agricultura", afirma. Além disso, são integrantes das teias alimentares (redes tróficas), tanto como presas quanto como predadores, participam ativamente na ciclagem de nutrientes e na bioturbação, que é a alteração físico-química do solo. Além disso, algumas espécies são fundamentais na polinização e dispersão de sementes.
Aline Prado conta ainda que os répteis e anfíbios também são importantes para os seres humanos de diversas maneiras, sendo considerados fonte de alimento para habitantes de áreas rurais e povos indígenas em algumas regiões. "Para algumas comunidades tradicionais, as espécies têm ainda importância cultural, sendo utilizados em rituais e práticas medicinais por comunidades que têm acesso limitado aos serviços de saúde. Muitas espécies também são estudadas para aplicações médicas e veterinárias", explica.
A bióloga contextualiza ainda que devido à baixa mobilidade, habitats altamente específicos e exigências fisiológicas distintas, os répteis e, especialmente os anfíbios, são extremamente sensíveis às mudanças ambientais. "Por essa razão, algumas espécies são consideradas ótimos indicadores da qualidade ambiental. Desta forma, a continuidade do programa já realizado na fase anterior, na execução do EIA/RIMA, o monitoramento da herpetofauna nos remanescentes florestais de Mata Atlântica sob influência da construção da Ponte de Guaratuba é essencial para avaliar o estado de conservação desses remanescentes e identificar possíveis impactos nas populações locais", diz. O monitoramento é fundamental para propor medidas mitigadoras que minimizem os impactos ambientais decorrentes da intervenção do empreendimento.
O monitoramento é realizado trimestralmente considerando as estações climáticas e o comportamento da herpetofauna em diferentes temperaturas. De acordo com Aline, a metodologia aplicada contempla os animais de hábitos aquáticos, semiaquáticos e os animais terrestres.
Metodologia de monitoramento de répteis e anfíbios - terrestre:
Interceptação e Queda (Pitfall Traps): são montadas com baldes enterrados ao nível do solo, para que durante a locomoção dos répteis e anfíbios, estes sejam capturados para estudos. As estações de Pitfalls são furadas, evitando acúmulo de água e revestidas com galhos, folhas e pedaços de isopor para garantir uma captura segura. Depois, de manhã e à noite, as armadilhas são inspecionadas por pesquisadores que removem os animais, identificam as espécies, fazem registros fotográficos e liberam novamente no mesmo local onde foram capturados.
Busca Ativa Visual e Auditiva: são caminhadas aleatórias de uma hora, realizadas pela manhã e à noite em todos os pontos amostrais, com o objetivo de observar os animais em árvores, no folhiço, em tocas e escutar suas vocalizações. Os anfíbios anuros, como sapos, rãs e pererecas, emitem uma variedade de cantos, o popular coaxar, que possibilita a identificação das espécies e do sexo dos indivíduos. Ao avistarem os animais, os pesquisadores procedem com a identificação das espécies, realizam os registros necessários e contabilizam as vocalizações e os avistamentos.
Sítios de reprodução: A reprodução dos anuros depende da presença de água, levando os machos a se reunirem em ambientes propícios, como brejos, poças d’água, lagos e rios. O canto dos machos atrai as fêmeas e também alerta outros machos sobre a posse do território. Nesse contexto, o método envolve busca visual e auditiva focada nos anuros durante suas atividades reprodutivas. A metodologia é realizada de forma aleatória pela manhã e à noite. Além da identificação visual e auditiva dos animais, também são registrados vestígios reprodutivos como desovas e a presença de girinos.
Metodologia de monitoramento da herpetofauna - aquática:
Ponto fixo: o pesquisador escolhe pontos estratégicos e faz o registro direto (visual e fotográfico) de animais aquáticos e semiaquáticos, como tartarugas e jacarés, e avalia também o comportamento, fazendo a identificação.
Censo embarcado: dois observadores ficam na proa da embarcação com câmeras fotográficas e binóculos e monitoram um ângulo de 180º, realizando o registro dos animais em pontos específicos próximos ao empreendimento. Ao observarem os animais, os pesquisadores registram informações como: espécie, número de indivíduos, comportamento, se estão próximos da embarcação e localização em coordenadas geográficas.
Como condicionantes da Licença de Instalação da Ponte de Guaratuba, as metodologias aplicadas têm como prioridade, monitorar espécies ameaçadas, como por exemplo, a tartaruga-verde (Chelonia mydas), residente da região.
De acordo com a bióloga do CSPG, Aline Prado, até o momento, a Ordem Anura, representada por sapos, rãs e pererecas, e Squamata, lagartos e serpentes, foram as mais predominantes durante o monitoramento. Para anuros, a família Hylidae foi a mais representativa. Já para os répteis, destaca-se a família Dipsadidae. Algumas espécies registradas até agora são: cururu-da-mata (Rhinella ornata), perereca (Scinax littoralis), rã-do-folhiço (Adenomera marmorata), papa-vento (Enyalius iheringii), cobra-cipó (Chironius fuscus), coral-verdadeira (Micrurus corallinus).